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um belo conto de natal (apenas para iniciados)

ninguém se atreve, hoje, atravessar os corredores. naquela época, sim.
observávamos a fila de um quilómetro de comprimento. ali, junto a milhares de outros pobres numa espera paciente.
pelo arroz… por, talvez, lentilhas e de outros temas da carreira.
isso. da arqueologia…
tinha vindo, no sábado anterior, das escavações – permanecia no local. puxei da bolsa e, alcancei o que ansiava…
isto não faz parte da narrativa. é, apenas, um recordar. uma coisa outra.
o meu objectivo, para além de  adquirir a mansão, seria tão só, conseguir o que muito bem é descrito como milagre.
e
claro, apoderar-me das máscaras e das pinturas expostas na biblioteca.

na verdade o seu proprietário que tinha desaparecido entre as orelhas no nilo – durante a estadia no egipto…
precisamente. numa das escavações no templo de rá, uma maldição o levou (rio abaixo) – não passa de rumores?… pois. talvez.
a mansão está localizada numa área exclusiva, nos arredores da cidade.
estava à espera. lá fora. sentado numa cadeira do século XIII, estofada, coberta por um couro verde inglês. as cortinas de tom semelhante, cobriam a entrada dos escritórios. ele era alto, trajava um fato seco e uma camisa vermelha. os sapatos denunciavam o sangue derramado horas antes:…

retrato-auto

– bom dia.
disse ele (a sua voz denunciava certo nervosismo).
– bom dia, como está?…
disse eu – sim, observava-o com certo cuidado.
e
lá fomos trocando palavras ao ritmo da cor dos olhos
– pareces-me simpático. gosto… tens uma boa aura e o olfato diz-me seres…
foi o que ele disse
e
não disse mais porque passou um comboio. o milagre aconteceu

segurando a cabeça adivinhei uma viagem à china. claro que antes tinha investigado uma pintura deslumbrante para além das máscaras – o autor não apenas pintara. actuara com magia – constatei.
e
ele riu.

eu, não. apenas li o livro… sobre isso e, sobre o artista. então, decidi ficar. fiquei… (claro que tinha de escrever o resto… fiquei, por isso mesmo)

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